Há 3 anos, um pedido inusitado pegou a vascaína Ângela Diniz
de surpresa. Sua sobrinha, filha de um flamenguista fanático, chegou para ela e
pediu uma camisa do arquirrival do Rubro-Negro de presente. Ângela decidiu
realizar o desejo da criança, mas com uma condição: ela teria que ser aprovada
na escola. Deu certo. Empolgada, a sobrinha Maria Luíza começou a estudar ainda
mais, tirou notas boas e ao fim do ano ganhou de presente a tão cobiçada camisa
do Vasco da Gama.
Meio por acaso, assim, Ângela percebeu que poderia unir sua
paixão pelo Vasco e seu desejo de ver nascer cada vez mais torcedores do clube,
com o combate à evasão escolar e o incentivo aos estudos. E em pouco tempo, a
brincadeira virou o projeto 'Enquanto Houver um Coração Infantil', que só agora
no início de 2014 premiou 58 crianças da rede de ensino secundarista da cidade
de Taperoá (interior da Paraíba, onde ela mora) aprovadas com boas notas no ano
letivo de 2013.
A coisa deu tão certo que o projeto hoje conta inclusive com
o aval do clube cruz-maltino, que soube da iniciativa, gostou do que viu, e
atualmente participa doando brindes para serem distribuídos entre os estudantes
que tiverem um bom desempeno escolar no ano letivo. Tem mais: a loja oficial do
Vasco, Gigante da Colina, e a fornecedora de material esportivo do clube são
duas outras entidades que também abraçaram a causa.
No início, depois da boa experiência com a sobrinha, a ideia
era atender um novo jovem por ano. E foi assim que ela repetiu a dose no ano
seguinte com um outro estudante, que também melhorou seu desempenho escolar
depois que se viu com chances de ganhar uma camisa oficial do Vasco da Gama.
Foi quando ela percebeu que queria e poderia fazer ainda mais. E assim foi
atrás do Vasco da Gama.
Torcedora conhecida nos corredores de São Januário, Ângela
entrou em contato com o clube para apresentar seu projeto e transformá-lo em
algo mais abrangente. Depois de uma tentativa frustrada de chegar à cúpula
cruz-maltina, ela resolveu traçar uma outra estratégia. E a figura principal
para chegar à diretoria do Vasco foi escolhida: o meia Juninho Pernambucano.
Segundo a idealizadora do projeto, o Reizinho tem tudo a ver com a ideia.
"Ele é um exemplo de profissional, de atleta. É
nordestino. Tem tudo a ver com o nosso projeto", revelou Ângela.
De acordo com Ângela, após uma reunião com o meia as coisas
ficaram mais fáceis. O jogador levou a ideia ao clube e desta forma a diretoria
vascaína passou a conhecer melhor o projeto e resolveu ajudar. O “Enquanto
Houver um Coração Infantil” atende um número ilimitado de crianças e
adolescentes do sistema de ensino da cidade de Taperoá. E para participar do
programa, os estudantes precisam apenas se inscrever junto com os voluntários
que moram na cidade. Dos 60 inscritos em 2013, apenas dois não conseguiram ser
aprovados na escola.
O prêmio para eles foi mais diversificado. Cada criança
recebeu uma mochila do Vasco com itens como caderno, lápis e borracha
personalizados do time. Além de uma camisa do Vasco da Gama, garrafa de água do
clube cruz-maltino e o livro 'Meu Pequeno Vascaíno', de Fernanda Abreu. Os kits
e as camisas foram recebidos através de doações de torcedores interessados em
ajudar o projeto, enquanto que as garrafinhas e os livros foram doados pelo
Vasco da Gama. A loja oficial do clube e a fornecedora de material esportivo
personalizam as camisas com os nomes dos estudantes aprovados.
De acordo com Ângela, o principal objetivo do projeto é usar
a influência do Vasco para melhorar o desempenho escolar das crianças, além de
atrair novos torcedores.
"Todos sabemos que o futebol tem muita influência nas
crianças. Elas sempre querem copiar o que os jogadores fazem. Então por que não
usar isso de uma maneira positiva? Este é o nosso principal objetivo. E com
isso nós acabamos conquistando mais torcedores", disse a professora.
CLUBE QUER LEVAR IDEIA PARA OUTRAS CIDADES
Para o vice-presidente do Departamento Infanto-Juvenil e
Responsabilidade Social do Vasco da Gama, Tadeu Correia, o projeto é de extrema
importância. Segundo ele, além do fato de incentivar as crianças a estudarem,
acaba afastando-as da violência urbana e cria um futuro de oportunidades para
elas.
"O projeto foi todo idealizado por ela, Ângela. E nós
abraçamos a causa, claro. A ideia agora é ampliá-lo. Ainda está muito pequeno.
Nossa vontade é de espalhá-lo para outros cantos do país. E com isso termos um
retorno ainda maior. Ainda não podemos mensurar o que este projeto trás para
nós, porque ainda não foi feito um estudo sobre isso, mas é claro que quanto
maior ele ficar, maior será o retorno para o clube", disse Tadeu.
No evento deste ano, inclusive, o Vasco enviou à cidade a
psicopedagoga Kátia Magalhães, para uma atividade educacional em que as
crianças e adolescentes, juntos, produziram a “Cartilha da Paz”.
A ideia era simples, mas com um objetivo claro: mostrar que
a torcida do Vasco não é aquela que protagonizou cenas de barbárie no jogo
entre o clube e o Atlético-PR, na Arena Joinville, válido pela última rodada do
Brasileirão 2013, e sim uma nação muito mais pacífica e apaixonada. Com isto,
eles já começaram a trabalhar as novas gerações para que não sigam este tipo de
exemplo.
"Quisemos mostrar para todos qual é a verdadeira
torcida vascaína. Aquilo que se viu em Joinville não é a torcida do Vasco.
Aquilo não nos representa", sintetizou Ângela.
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