Rádio Nação Ruralista

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Processo de desertificação avança na PB; Cariri sofre danos


O processo de desertificação é algo sério e que assusta. Os especialistas alertam que se nada for feito e se o estado atual de degradação ambiental continuar, é provável que em 100 anos, o Semiárido paraibano esteja totalmente árido. Isso significa que a vegetação da Paraíba corre sérios riscos de desaparecer de vez, o que seria catastrófico para a população. O Estado, um dos mais atingidos pela desertificação pode virar deserto no futuro.
A Paraíba, conforme alertou o ambientalista Roberto Almeida, com base em dados da organização internacional Greenpeace, e da Associação de Proteção da Natureza (APAN), está em adiantado estado de desertificação, ocupando o 1º lugar no Brasil. Em entrevista ao PBAgora,  Roberto Almeida garantiu que a caatinga paraibana foi sucumbida nos últimos 50 anos, devido a ação implacável da lei do machado. O tráfico de lenha no Estado, cresceu em proporções alarmantes, apesar dos órgãos governamentais estarem mais atentos e enérgicos no combate aos crimes ambientais.
De acordo com os dados repassados pelo ambientalista com base no relatório sobre mudanças climáticas elaborado pelo Greenpeace, mais de 72% do território do estado da Paraíba está suscetível ao processo de desertificação. Isso significa que 1,66 milhão de pessoas – a metade da população paraibana – está sofrendo com os drásticos efeitos do processo devastador. “Esse processo tem avançado. A Paraíba é o Estado do país mais atingido pelo processo de desertificação do tipo muito grave”, alerta o ambientalista Roberto Almeida.
Na Paraíba 208 dos 223 municípios estão suscetíveis a desertificação e o processo avança a cada dia. Um levantamento feito pela Sudema da qual, Roberto é superintendente  em Campina Grande, revela que pelo menos 68% das matas paraibanas sofreram alguma interferência do homem e estão com sua fauna e flora comprometida afetando diretamente mais de 1milhão de paraibanos. As regiões com maior grau de ocorrência de desertificação apontadas no documento são o Seridó oriental e ocidental – composto por municípios como Barra de Santa Rosa, Salgadinho, Frei Martinho, Cuité e Picuí – e o Cariri ocidental. Nessas regiões a retirada da lenhas típicas da caatinga tem sido feito sem nenhum controle.
O diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa),  professor Dr. Ignacio Hernan Salcedo,  observa que processo de desertificação no Estado é moderado à severo em terras do Cariri, Seridó e do Sertão.
Em entrevista ao PBAgora Ignacio Hernan relatou que mais da metade dos municípios paraibanos está suscetível ao processo de degradação da terra, que compromete sua produtividade biológica e econômica.
Essa situação segundo ele, tende a se consolidar devido ao avanço do desmatamento, verificado especialmente quando associado ao forte consumo de lenha (70% de consumo doméstico e 30% de consumo industrial) no Semiárido Paraibano.
Especialista em solos tendo já atuado em frentes de ações voltadas ao combate a desertificação, o diretor do Insa contou que  desde a década de 70 que o ecologista Vasconcelos Sobrinho identificou áreas tipicamente qualificadas com esse processo, a que ele denominou-as de Núcleos de Desertificação. Na Paraíba, ocorrem dois desses Núcleos, sendo um deles, o Núcleo dos Cariris Velhos – com área afetada de 2.805 km2 (ou 280.500 hectares), abrangendo diretamente cinco municípios e seus vizinhos, e o Núcleo de Desertificação do Seridó – compartilhado com o estado do RN – com área total afetada de 2.987 km2 (ou 298.700 hectares).
O mais preocupante conforme aponta os estudos é que apenas 1,42% do território paraibano é juridicamente protegido contra o desmatamento e outras ações que comprometem a existência de espécies vegetais e animais. O percentual corresponde às terras indígenas e às unidades de conservação federal e estaduais que ocupam 82,9 mil hectares.
O professor da Universidade Federal da Paraíba, Bartolomeu Israel de Souza, revela que hoje o homem do campo está com uma nova mentalidade. Sem depender mais da terra para tirar o sustento, como era no passado, quando tinham como fonte de sobrevivência o feijão, o milho e outras culturas, esses paraibanos passaram a ter acesso a produtos industrializados, ficando mais insensíveis, a degradação ambiental.
Professor do departamento de Geociência do CCEN da UFPB, Bartolomeu Israel de Souza, publicou recentemente o trabalho “A Desertificação na Paraíba”, uma síntese do Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no Estado da Paraíba, o chamado PAE-PB , programa coordenado pelo professor.
No documento ele constatou que nos últimos anos, a Paraíba teve um aumento superior a 14% de sua área desertificada, acompanhando uma realidade de todo o país.
Na visão do ambientalista Roberto Almeida a educação ambiental ainda é a ferramenta indispensável para frear o processo de avanço da degradação ambiental na Paraíba e mudar o quadro  evitando assim, a catástrofe anunciada. Para ele, a questão do desmatamento e as técnicas de agricultura precisam ser revistas. O ambientalista observa que muitas vezes o homem simples do campo derruba árvores sem ter noção dos danos que estão sedo causados ao meio ambiente.
Com rosto sofrido, a agricultora Rosineide Oliveira da Sila, 46 anos, moradora do sítio estreito 3, Catolé de Boa Vista, conhece bem a vida numa área desertificada. Nos últimos anos, ela lucrou pouco devido a pobreza do solo. “Choveu bem mas a colheita não foi boa”, conta. Mãe de 6 filhos, entre eles Letícia Emanuely de 3 anos, Rosimere revela que o seu marido o agricultor Isaias dos Santos Silva, 48, já pensou em abandonar a terra. “Aqui é tudo difícil”, conta.
A também agricultora Maria José Soares Araújo 35, também moradora do Estreito 3, lembra as a sobrevivência no campo é um grande desafio. Ela aponta para um imenso campo deserto, mostrando que o local um dia, foi cercado por plantas. O verde, deu lugar ao sequidão, tornando o cenário inadequado para agricultura e a própria sobrevivência.
A desertificação é um tipo de degradação ambiental que ocorre em zonas de clima seco. O fenômeno é muito antigo mas só na década de 1970 o mundo passou a estudá-lo com mais atenção devido a grande seca que afetou parte do continente africano.
Especialistas apontam ações para combater avanço da desertificação
Perda da produtividade agrícola, maior degradação da terra, êxodo rural, aumento da temperatura, problemas com recursos hídricos e pobreza. Os efeitos da desertificação no Estado da Paraíba, são implacáveis  segundo alerta os ambientalistas. O ecologista Roberto Almeida revela que clima no semiárido está cada vez mais seco e a temperatura na região tem aumentado.  A aceleração do desmatamento e do desflorestamento e a emissão de gases poluentes estão afetando a distribuição das chuvas e as temperaturas, por isso cada vez aumenta o grau de aridez nas zonas de clima seco.
No estudo que realizaram os professores doutores Bartolomeu Israel de Sousa e Tarciso apontam as medidas para combater a desertificação e alertam que evitar que ela ocorra é a melhor solução. A recomendação é que nas áreas a serem utilizadas para uso agropecuário sejam adotadas práticas de conservação do solo. O professor cita nove práticas que evitam a desertificação como a consorciação de culturas; redução ou eliminação das queimadas; cobertura do solo; rotação de culturas (usar diferentes culturas a cada ano nas terras onde se pratica a agricultura); adubação; faixas de retenção de terra; culturas em nível para conter a erosão; plantio de alimentos que possam servir de forragem para o gado e o manejo da Caatinga para produção de alimento para o gado.
O diretor do Instituto do Semiárido  Ignacio Hernan Salcedo, também apresentou algumas ações que podem frear o avanço da desertificação no Estado. Entretanto, para que as ações sejam efetivas, atualmente é recomendável que se invista em pesquisa e se faça  outra intervenção imediata no diz respeito às alternativas contra o desmatamento. Como forma de conter o avanço da desertificação na Paraíba, ele defende que os órgãos ambientais só devem licenciar atividades que não sejam demandantes por recursos florestais, nas áreas suscetíveis ou em processo de desertificação.
Além do mais, a  irrigação precisa ser fiscalizada para evitar-se a salinização dos solo; os bancos não podem financiar projetos que levem a desertificação; os produtores devem ser capacitados em métodos de conservação dos solos. Também deve ser ampliada a fiscalização contra o tráfico de madeira e exigido a compensação ambiental; bem como, adotadas medidas de manejo para se evitar o sobrepastorieo (excesso de número de animais por hectare) em áreas sensíveis.
Desertificação em Campina já atinge 80%
Quem atravessa a cerca de arame e pisa no solo duro da Fazenda Bianca localizada a pouco menos de 15 quilômetros do Centro de Campina Grande, se assusta. O cenário é de deserto. A fazenda, medindo 800 hectares, está totalmente desertificada. A vegetação é seca. Apenas alguns pés de algaroba, eucalipto, umbuzeiro e cactos, plantas resistentes a longa estiagem, mantém o verde. A sequidão predomina. A muito tempo que a paisagem mudou.
De acordo com o ecologista Roberto Almeida, no passado a fazenda Bianca se constituia em um grande cinturão verde existente em Campina. A área verde se estendia até a mata conhecida como Mequinha, na Alça Sudoeste. Só que hoje o cenário mudou e a paisagem é totalmente desértica. No local onde existia a mata da Mequinha a desertificação é total. A devastação acabou com tudo. Quem olha só vê sequidão.
Segundo dados da Associação de Proteção ao Meio Ambiente, 80% da área territorial de Campina Grande e do Compartimento da Borborema está totalmente desertificada. Roberto Almeida destaca que os maiores consumidores de lenha na cidade ainda são as panificadoras, as renovadoras de pneus e as indústrias que usam a madeira como fonte energética.
Em conseqüência desse avançado processo de desertificação, o clima na cidade segundo Roberto Almeida, está mais quente. O campinense está enfrentando nos últimos anos, temperaturas insuportáveis, conseqüência direta da interferência do homem na natureza
No entendimento de Roberto Almeida a solução para a cidade recuperar a sua área verde, passa necessariamente pelo reflorestamento. Esse reflorestamento segundo ele só pode ser feito com o aproveitamento das sementes como acontece no horto florestal da cidade.

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